Em nome do arroz, do feijão e da carne moída refogada eu jamais passarei fome. Esse foi sem dúvida o meu primeiro prato favorito. Lembro-me de muito pequena misturar tudo no prato, com um pouco de farinha para dar liga, fazer um bolinho e obrigar a família a cantar parabéns. Pois é. Eu cantava parabéns fora de época para um bolinho de arroz e feijão. Com certeza, se tivesse que optar por uma última ceia, esse seria meu prato de despedida. Com direito a um tomatinho picado para completar.

Tanto o feijão, quanto o arroz estão em diversas culturas do mundo há tempos. O primeiro, com o nome genérico de favas, tem registro nas eras mais antigas da China, do Egito e de Roma. “Historiadores como Umberto Eco e Jacques Le Golf acreditam que a existência de feijões e favas, ricos em proteínas, fibras, hidratos de carbono, vitamina C e ferro, foram responsáveis pela sobrevivência da civilização ocidental diante das terríveis fomes e pestes medievais”, descreve Caloca Fernandes, em Viagens Gastronômicas pelo Brasil (ed. Senac).

No Brasil sempre teve feijão. No Ciclo do Açúcar (sec. XVI e XVII) ele ocupa o Nordeste e passa afazer parte dos farnéis dos bandeirantes e tropeiros. Mais tarde, no Ciclo do Ouro (sec. XVIII) encontra o angu de fubá de milho na comida dos escravos e se consolida como comida substancial para trabalhadores. Torna-se ainda o companheiro inseparável da farinha no Norte e Nordeste do País. Como observa o historiador Câmara Cascudo “para o povo, uma refeição sem feijão  é simples ato de enganar a fome”.

Só a partir do século XVIII que o arroz –  consagrado entre as civilizações orientais – se consolidou como cultura por aqui e finalmente tomou o seu lugar de direito ao lado do feijão. Esse encontro exigiu esforço para implantar o cultivo do arroz branco (do tipo beneficiado) no Brasil. Com a chegada da corte portuguesa veio a consolidação. D. João VI incluía na ração do exército o arroz misturado a um feijão de má qualidade, o que fazia com que os grãos escassos boiassem num caldo ralo, daí o termo “bóia”.

Ainda não descobri quando a carne moída se juntou com a dupla da bóia. Mas no meu coração a santíssima trindade sempre esteve unida. Por isso, hoje compartilho com vocês o primeiro entre os melhores pratos da minha vida. Aquele que me leva pra casa, me abraça por dentro e me faz sentir que  a vida vale a pena e tudo no mundo está onde tem que estar. Com vocês, a Santíssima Trindade.

Aprenda a preparar a santíssima trindade: todos os passos do feijão, arroz e carne moída

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