Nada de moqueca, feijoada ou picanha, o prato que brilha muito no coração do brasileiro é a lasanha. A pesquisa internacional feita pela ONG Comitê de Oxford de Combate à Fome (Oxfam) contou recentemente que os brasileiros gostam mesmo é da generosa combinação caseira de carboidrato, proteína, molho e queijo. Tudo gratinado.

Também pudera, né? A lasanha é uma combinação apelativa. Do tipo quando a pista esvazia e o DJ lança mão de um mambo caliente. Tudo nela funciona sozinho, quando junto, só melhora. E as combinações são muitas. Todas gordas. Mesmo as que substituem a massa pela berinjela ou abobrinha vêm todas trabalhadas no queijo com molho. Pesa menos no estômago, mas nem tanto para o bíceps. E sempre foi assim. Na Roma antiga, o filósofo Cícero (106 aC-43 aC), apreciava muito um prato feito em camadas alternadas chamado “Lagana” por sua maciez e qualidade mantidas mesmo depois de alguns dias. Espertão!

O nome é emprestado do grego “lasanon”, que significa algo como um pote. Para os romanos virou “lasanum”, o recipiente supostamente usado para fazer a lasanha. Então a lasanha é italiana? Não necessariamente. Como eu já disse algumas vezes aqui, dificilmente teremos uma origem definitiva atribuída a uma receita. Há registros de que pratos similares chamados “loseyns” (lasan), um hit na corte de Rei Ricardo II no século XIV, marca presença no primeiro livro de receitas da Inglaterra. Tudo sem tomate, claro. Porque esse não existia para os Europeus antes das Américas entrarem para o mapa mundi.

Mas foi na Itália que a lasanha fez morada e história. Principalmente quando encontrou o “ragú alla bolognese”, para nós algo semelhante ao molho à bolonhesa. Foi lá que ela ganhou a forma tradicional, que alterna camadas de massa fresca, molho e queijo (Não, não tem bechamel, o nome francês do molho branco a base de leite, farinha e manteiga. Só queijo, parmigginao). E foi de lá que ela se deturpou (aprimorou).

Nem os italianos são capazes de entrar em acordo sobre suas receitas típicas, grazadeus. Na Itália a lasanha foi ganhando caras, cores e gostos diferentes. Porque a brincadeira lá é usar o que se tem a mão. Comer a vista, literalmente. Daí o slow food ter nascido com esse sotaque. Na Ligúria, por exemplo, a lasanha pode levar pesto e um ar mais verde e vegetal. No Veneto, vai Radicchio Rosso di Treviso, uma espécie de chicória vermelho escuro e branca, delícia.

Como não existe uma verdade absoluta, siga o seu coração. Nesse viés vale abobrinha, berinjela, chicória, massa verde, massa fresca, seca, molho branco, vermelho ou até presunto (numa combinação bauruzinho). O importante é fazer jus à raça brasilis e mandar ver na lasanha.

Desde que eu li a respeito fiquei paranoica. E aproveitando a deixa da preferência nacional decidi executar a minha versão preferida do prato italiano: à bolonhesa.

Confira receitas de Lasanha:

Lasanha à bolonhesa

Lasanha de massa fresca

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