“Eu sustento que “salsinha” é nome genérico para tudo que está no prato só para enfeite ou para confundir o paladar, o que incluiria até aqueles galhos de coisa nenhuma espetados no sorvete, o cravo no doce de coco, etc. Outros, com mais rigor, dizem que salsinha é, especificamente, o verdinho picadinho que você não consegue raspar de cima da batata cozida, por exemplo, por mais que tente. Outros, mais abrangentes, até do que eu, dizem que salsinha é o nome de tudo que é persistentemente supérfluo em nossas vidas, da retórica a porta-aviões, passando pelo cheiro-verde. Meu conselho é que evitemos a metáfora e a disputa semântica e, unidos pela mesma implicância, passemos à ação. Para começar, sugiro um almoço informal com o presidente da República, em Brasília, para discutir a gravidade da questão, que certamente não merece menos atenção do que as novelas da Globo”*.

Pois é, diferente do Veríssimo (o Luis Fernando) – a quem amo incondicionalmente por sua obra literária – eu gosto de salsinha. Até concordo que o uso indiscriminado de qualquer tempero pode estragar um prato e até uma refeição. Nem tudo combina com tudo e nem tudo combina com salsinha.

Mas se for para fazer um levante ou um almoço com Dilma, eu proponho um movimento extremo ao dele: a luta pelo protagonismo da salsinha. Sim, ela sofre as consequências da vulgarização do seu uso. Botam no peixe, na carne, na salada e até no abrasileirado estrogonofe.

Essa martirizada erva de origem mediterrânea teve a sorte ou o azar de dar em qualquer canto do mundo e talvez aí more o perigo. No entanto, se bem colocada, ela brilha e muito. Agrega frescor, aroma e textura. Seu sabor sutil lembra limão e há até certa picância. Sem contar a cor, capaz de colorir, sopas, cozidos e molhos.

Por isso, a proposta de hoje é tirar a salsinha da marginalidade. Seguindo a promessa da semana passada, o pesto dessa semana é com ela. Além de ser uma pastinha ótima para brusquetas e torradinhas, serve para temperar massas nos dias difíceis, batatas cozidas e saladas.  Sem contar que o pesto serve como uma forma de conservar a erva, que por sua trivialidade, acaba sempre sobrando no fundo da gaveta da geladeira.

Aqui foi feito com nozes, mas em caso de emergência uma gema cozida e os talos da própria picadinhos já resultam num molho excelente. Essa receita converteu amigos, que como Veríssimo, odeiam salsinha. Por isso, deixe seu preconceito de lado e arrisque. Até porque, se der errado, você terá gastado muito pouco.

 

 

Receita

 

Pesto de salsinha

Ingredientes
1 maço de salsinha fresca
1 dente de alho
Azeite extravirgem
Sal a gosto
2 colheres de sopa de nozes

 

 

Preparo
Pique à mão (se tiver pique) ou triture a salsinha em um processador com as nozes, o sal, o alho e vá colocando o azeite aos poucos até que vire um pasta. Se quiser um molho mais líquido, coloque mais azeite.

 

*Trecho retirado do livro “A Mesa Voadora”, do Luis Fernando Veríssimo

 

 

 

 

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