Vocês devem ter notado que essa semana eu não postei. Estou mudando de casa, para uma casa, mesmo. E isso, se você já morou em casa, sabe que envolve um milhão de perrengues que um apartamento nem de longe apresenta. Eu to com a vida em caixas de papelão. Com a atenção dividida entre o cara que vai montar o guarda-roupas, o pedreiro e o rapaz da prateleira da cozinha. Nessa de visitar mais a Leroy Merlin que o mercado. De descobrir vazamentos, falhas na parte elétrica e detetizar a casa, tive que deixar o blog de molho. Acho que nunca tinha ficado uma semana inteira sem postar.
Eis que nos 47 do segundo tempo, o pessoal do Questo|No me dá o presente mais legal o ano. O vídeo que eles fizeram comigo como parte do projeto Q|N Lab na Mesa. Por indicação da minha amiga Raquel, do Gordelícias, eu fui láno Lab preparar um ceviche caipira pros meninos e, em troca, ganhei esse filme lindo, onde eu conto um pouco da minha história, do meu amor pela comida e do blog. Espero que gostem!
Conheci a chef Ana Soares numa ocasião especial. No ano passado (2013) fui conviada para participar das entrevistas, pesquisa e redação do livro As Chefs.
A Ana era uma das figuras que entrariam para o livro, que tinha como objetivo mostrar o lado humano das cozinheiras mais celebradas do Brasil. Nem preciso dizer que foi uma delícia de trabalho, que rendeu ótimas histórias.
Meu papo com a Ana ocupou toda uma manhã lá no Mesa III, seu ateliê e ao mesmo tempo fantástica fábrica de massas. E não foi nenhum sacrifício ouvir tantas histórias delciosas que envolvem o desabrochar de uma cozinheira.
Ana é descendente direta de imigrantes italianos, criada em Guararapes (SP), entre fogões a lenha e pomares. Se define como perfeccionista, apaixonada por aromas, formas, cores e tudo aquilo que é belo. Tanto que formou-se em arquitetura e antes de trocar as pranchetas pelas massas, flertou inclusive com a moda. Mas ela garante que jamais deixou de lado o senso e o valor estético. Para a cozinheira, o pastifício tem muito da arquitetura: a preocupação com a forma é parte essencial na criação de massas.
Eu costumo brincar que entrevistar pessoas é entrar um pouco na vida delas e tomar emprestado emoções que não nos pertencem. Portanto, bora celebrar a semana da massa, com bate-bola com a Ana aqui para o Sem Medida sobre o precesso criativo das suas inusitadas e tão perfeitas massas.
Larissa: Vc costuma pensar suas massas em coleções, como um estilista?
Ana: Larissa, o paralelo é perfeito! Você sabe, eu já andei um pouco pelo mundo da moda…
Larissa: Como acontece o seu processo criativo? De onde vem a inspiração?
Ana: …Uma palavra, um gesto, um ingrediente, uma situação, uma notícia, um artigo, um desafio, um livro… a feira, um erro! Uma viagem, tudo é inspiração.
Larissa: No caso das Massas do Brasil, como surgiu? Tem uma história por trás disso tudo? (Ana lançou uma coleção de massas a base de ingredientes brasileiros como cacau, pequi e cúrcuma).
Ana: Há muitos anos atrás, 12? 11?, num curso em Verona, uma pergunta sobre a Amazônia plantou a semente das Massas do Brasil. Concretizou-se numa viagem-expedição-aula a Goiás num evento de gastronomia, ano passado. Já vinha sentindo a necessidade em outras ocasiões, numa aula fechada que dei no Paladar, uma outra aula na escola Wilma Kovesi… nos exercícios-laboratórios do Paladar que fizemos, Neide Rigo, Mara Salles e eu. Uma “crise pessoal” sobre o meu trabalho e a cozinha do Brasil.
Larissa: Como você trabalha a combinação de ingredientes?
Ana: Os cheiros e sabores falam sozinhos! Trabalhei com as técnicas clássicas de massas artesanais.
Larissa: Qual a melhor combinação no prato na sua opinião?
Ana: Tempero baiano, ragu do mar. Pequi e pato.
Larissa: Para quem quer fazer massa em casa, o que é essencial saber? Ana: Que o tempo e paciência é parte dos ingredientes. Farinha e ovos de muito boa qualidade.
Larissa: E em equipamentos? Quais os indispensáveis para uma boa massa caseira?
Ana: As mãos e uma maquininha caseira para os fios ou folhas (rechear).
Larissa: Aliás, você cozinha em casa? O que vc mais gosta de comer em casa?
Ana: Todos os dias! Massas e verduras!
Larissa: Você ajudou a moldar os cardápios de inúmeros lugares de SP. Conhece mais que ninguém o circuito da cidade, com isso, como você vê a cena gastronômica daqui hoje? Com otimismo?
Ana: É fato, um olhar mais atencioso para a cozinha brasileira: o prato está na mesa! Idem para o ingrediente da horta, do pomar, dos rios, do céu e do mar, em sintonia fina com despretensão, sabor e qualidade, da cozinha “da chef” à de “foodtruck”. Gastronomia é serviço e o setor está em alta!
Encontrei o nome do paraense Thiago Castanho numa das buscas por novidades para pauta. Ele tinha ganhado diversos prêmios de chef revelação em 2010, fiquei curiosa. Sugeri e deu certo. Fiz a entrevista e tive a chance de conhecer a história de vida do jovem cozinheiro, que apesar da pouca idade, já tinha uma experiência e tanto. Porque como ele mesmo diz, foi criado dentro de um restaurante, em Belém.
Uma terra boa, de gente melhor ainda, que já me encantava mesmo antes de conhecer de perto. Já dividi casa alguns paraenses que se tornaram grandes amigos. E eles sempre trouxeram de lá um pouco dos sabores do Pará. Assim como eu, eles têm alma de retirante, e não uma só vez que não trazemos um isopor recheado para São Paulo.
Um pouco depois, tive a oportunidade de visitar a capital do Pará. Provei todas as delícias locais e claro, a comida do Thiago, uma das melhores que já coloquei na boca. Por isso, coloco aqui, a entrevista e deixo também a dica: provem a comida paraense.