Esse é daqueles pratos que metade é: pica tudo do jeito que der, misture e pronto. A outra a natureza já fez, o homem domesticou e comercializa de forma relativamente acessível.
Pra se ter uma ideia, não precisa nem de sal. E só botar no pirex léendo e chegar na festa de natal maravigold fazendo o ultimate masterchef da poha toda.
Enfim, vamos aos meandros do truque.
Eu piquei fininho na mandolina: cebola roxa, cenoura, picles de pepino, maçã verde. Um de cada. Depois fatiei pra ficar em cubinhos pra ficar bem picadinho.
O frango defumado eu comprei no hortifruti do bairro. Mas tem nas grandes redes e em versões artesanais. Depois achei até um mais em conta no Santa Luzia, caso você esteja em São Paulo, vale a pernada.
A beleza é tanta que o frango já vem cozido com aquele saborzinho de amor que só os defumados têm e o aroma que lembra bacon.
Então é só desossar, desfiar e se controlar para não ficar comendo tudo antes de terminar a receita. Eu dei uma repicada para ficar proporcional ao tamanho dos vegetais. Junta o frango com os vegetais.
Agora é só juntar A UVA PASSA!!! A grande estrela desse role. Que é quem vai fazer o par perfeito com o frango defumado numa explosão de textura, amor e sabor. E tá pronto. Se quiser, acerte o sal, mas na minha opinião não precisa.
Vale servir com macarrão fusili ou pene. Ou mesmo puro com umas folhas verdes e torradinhas.
Um jeito lindo de servir esse salpicão é como recheio de conchiglioni para um canapé de vó geladinho. Pra comer numa tacada só. Cafona lover total!
Todo ano é a mesma coisa, chegam as festas e com elas todas as comidas maravilhosas. Pernil, bacalhau, farofa, salpicão, arroz colorido, tortas, pavês, pudins, tá tudo liberado. Aquela época em que você pode colocar no mesmo prato carne, peixe, porco, ave, fios de ovos, frutas…e ninguém vai te criticar. O contrário, vai fazer alegria das tia tudo, que passaram horas velando o assado e o lambuzando o bicho com manteiga.
É a época também que a diva, rainha da poha toda, aquela que brilha mais que a estrela de Belém no topo da árvore, traz todo o seu esplendor para os pratos. Isso mesmo! Está aberta a temporada de #uvapassaemtudo
Como diria Gretchen, aceita. Abram os vossos corações e deixe toda a magia doce dessa frutinha dry age tocar sua alma glutona. Uva passa é elegância vintage, pura tradição, eternidade plena, riqueza e abundância. Até Jesus era fã de uva passa. E você aí renegando a coitada ao limbo dos ossos roídos no canto do prato.
Para te ajudar a abrir a mente para as benesses dessa pretinha not basic, estou abrindo aqui a campanha #freeuvapassafree.
1 – Ela é pura tradição Desde sempre a humanidade, bem antes da civilização processar o açúcar como conhecemos, tirava das frutas secas o sabor agradável do dulçor. Especificamente as uvas passas estão presentes na dieta de seres humanos desde a pré-história. O choro é livre!
2 – Ela é a mãe de todos os açúcares No Egito Antigo, por exemplo, não existia cana-de-açúcar logo, não existia açúcar de cana. As frutas como uvas, figos e tâmaras, junto com o mel, eram um dos únicos recursos para adoçar. Sem contar que secar era método de conservação das frutas. “Nossos ancestrais descobriram de forma incidental as uvas murchas na própria videira”, revela Sandro Dias, professor de história da gastronomia do Centro Universitário Senac – Águas de São Pedro.
"Uva passa ajuda a prevenir câncer, alzheimer, parkinson e demência" E VOCÊS AÍ DE PALHAÇADA FALANDO PRA NÃO COLOCAR NA COMIDA
3 – Ela é a elegância plena em forma de vinho Na Antiguidade, os povos do Oriente seguiram para o Ocidente e levaram consigo as uvas, fundamentais para o fabrico do vinho. Nesse contexto, as uvas passas assumiram lugar de destaque na dieta de povos como os egípcios, hebreus, mesopotâmicos, árabes, gregos e romanos. “Uma das mais famosas e prestigiadas é a passa moscatel de Málaga, cultivadas na região da Andaluzia, na Espanha”, destaca o professor.
4 – Sua avó, a mãe dela e a vó da mãe dela já usavam na ceia Colocá-las em pratos salgados não é ideia nova, tão pouco brasileira. “As passas estavam presentes em receitas egípcias de assados, na China ancestral, nos banquetes do Rei Salomão, entre os persas, cristãos antigos e judeus”, conta o nosso especialista. E, ao contrário do que você possa imaginar, o seu dulçor, era justamente o que lhe conferia status e aumentava seu valor em receitas.
5 – Ela é a cara da riqueza A uva passa carrega simbologias maravilhosas de fartura, fertilidade e prosperidade. Seus cachos e múltiplas sementes remetem à abundância. Daí o motivo da vovó colocá-la na farofa natalina. “As festas de fim de ano marcam um momento de transformação, onde os alimentos carregam a simbologia do que esperamos e desejamos para o novo ciclo”, interpreta Dias. Você fica separando a uva passa no prato, depois não entende porque sua vida não vai pra frente.
6 – O mundo todo ama No Brasil, nós apenas herdamos os hábitos dos povos Europeus que aqui aportaram. E embora pareça exotismo, originalmente a presença das uvas passas em pratos salgados sempre foi símbolo de riqueza, luxo, poder e glória. E a relação que predomina aqui e no mundo é de pura paixão. Então, apenas pare.
Essa pessoa, não seja essa pessoa
7 – Ela eleva seu paladar Gostar de uva passa na comida garante de vez a sua cadeira na academia brasileira de maturidade gustativa. Só pessoas de fino trato, gastronomicamente cultas e sábias entendem a complexidade do sabor agridoce. Seja um amante do refino e dos bons costumes, cruze a fronteira pueril do “não gosto de doce com salgado” e LIBERTE-SE! Mostre ao mundo que você é chique, viajado e de paladar apurado. “A resistência pode ser classificada como gosto, preconceito ou até má vontade, porque, como vimos, há algo mais na uva passa que um simples alimento, há a afetividade culinária e toda a simbologia e nobreza que ela representa especialmente no fim do ano”, finaliza o magnânimo mestre Sandro Dias. Então, é melhor aceitar a tradição, se entregar e parar de passar vergonha na ceia.